sexta-feira, 11 de julho de 2014

La belle de jour

-Leia a minha mão. Se acertares algo, sou tua.

Ele quedou-se uns segundos estupefato. Com que, então; que coisa! A garota era bonita e tinha olhos misteriosos; no fundo, não admirava que o desafiasse.
Concentrou-se. Depositou cuidadosamente a mão dela sob a sua - aquela mão plena de histórias e gestos que a ele eram desconhecidos. Fechou os olhos; tentou, de qualquer forma, absorver o seu aroma, a sua proximidade e sua pessoa. Sabia que essa mão que estava sob a sua era uma ponte, breve raio de contato, e contentava-se mesmo com essa brevidade.
De olhos, agora, bem abertos - faiscando de confusão - ele a observava, atento: as linhas de seus olhos meio oblíquos; seu ar, em geral curioso; seu riso pueril dependurado da boca, insolente. Ela esperava, terna, à sua frente, à sua espera e à disposição. O sol iluminava-lhe os cabelos, e ele mirava-se nas pupilas escuras; reconheceu um ímpeto e arriscou-se com solenidade:
-És efêmera. Uma brisa colorida, um dente de leão.
Da expressão reticente que ela replicava ele arrancou a displicência e continuou:
- ...talvez teu lampejo seja certeiro, porém. Ou, quem sabe, sejas elétrica, distribuindo raios por aí, quando pensamos que é uma tarde de sol. Eu sei lá, nem compete a meu pensamento te desvendar, afinal. Mistério é bobagem. - E, à Houdini, sacou do bolso da calça uma caneta e rabiscou seu número na palma da mão confusa. O vento bagunçava-lhe os cabelos e ela tinha um ar perplexo. -Só pra variar. - disse e despediu-se numa mesura, dando-lhe as costas, deixando um sorriso torto para trás.
"Só pra variar", ria, imaginando sua cara quando ela ligasse e descobrisse que era o número errado.





https://www.youtube.com/watch?v=718UumUnZUA


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Imagem: Pretty Muse. Mais aqui: http://beautyandthebeachphotography.blogspot.com.br/2011_12_07_archive.html

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