quarta-feira, 3 de julho de 2013

Feliz Aniversário, Kafka.

"Ele estava tão enredado como uma mosca presa numa teia, na angústia e opressão de seus laços - de família, do trabalho mesquinho e da própria vida que transcorria como uma gosma dentro dele -, que exprimir isso lhe surgia como uma necessidade urgente e absoluta para ter pelo menos a esperança de lavar seu cérebro daquela viscosidade de patas que se debatiam sem conduzi-lo a lugar nenhum. Mas o pior das palavras era que, quanto mais as escrevia, mais elas pareciam afugentá-lo da nitidez de um alvo. O mais engraçado - provocando nele, em seu quarto de dormir, uma gargalhada parecendo guinchos, que enregelou a família na sala - é que foi justamente no momento em que entregou os pontos, desistindo de palavras ou pensamentos profundos, que ele entendeu que para escrever o que se passava dentro dele e ao seu redor não havia outra forma senão a mais rasteira e única possível: "Quando Gregor Samsa despertou, certa manhã, de um sonho intranquilo, viu que se transformara, em sua cama, numa espécie monstruosa de inseto."






Imagem: 'Franz Kafka', Warhol.

Texto: Sérgio Sant'Anna, aqui.

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